LIVRO ALMA BASCA de Ana Luiza Panyagua Etchalus
O motivo para ler ter lido este livro é totalmente particular, extremamente pessoal. Minha família é basca. Minha mãe nasceu em
Vitória-Gasteiz em Alava. Minha avó em Tolosa, Guipuzkoa. E se não
bastasse ser descendente direta de uma basca, o meu avô paterno era neto
de bascos, porém do lado francês. Daí vem meus sobrenomes Jiménez Inda,
sendo que pelo lado de minha avó materna eu sou Berruezo. Sempre busco
por todas informações sobre esse povo único, o meu povo. Meu principal
guia é meu tio-avó, que me conta a História dos livros, porém vivenciada
por ele!
Um povo que resiste ao tempo. O único povo que possui uma língua tão
antiga no ocidente, sem ligação alguma com qualquer língua
Indo-europeia. Um idioma que segundo os estudiosos, vem da época da
Idade da Pedra, e que não sofreu influência alguma das invasões sofridas
pela região, nem mesmo dos romanos.
Um povo com sua própria cultura, aonde os laços sanguíneos são os mais
importantes, aonde a sociedade é matriarcal e nada é mais sagrado que
sua mãe. Sua terra, suas canções, suas danças, sua culinária, sua
história.
Um tesouro que foi ameaçado por diversas vezes. A pior investida contra
os bascos foi feita por Franco com o apoio de Hitler. A Guerra Civil
Espanhola foi o primeiro passo da Grande Guerra. Foi o massacre de
Guernica, aonde Picasso imortalizou o bombardeio num dos quadros mais
famosos da história. Até quase a década de 80, era proibida a cultura
basca. Uma das maiores censuras já imposta a um povo. Tudo era proibido,
até mesmo falar ou escrever o idioma e registrar seus filhos com o nome
verdadeiro. Muitos bascos guardavam o seu nome basco em segredo, apenas
entre outros bascos e utilizavam no dia-a-dia o nome espanhol que
consta no registro. Por isso o sentimento separatista é muito maior no
lado espanhol que francês.
Por causa da perseguição política, muitos bascos fugiram para a América,
muitos traziam suas famílias. E foi assim que minha mãe chegou ao
Brasil. Atualmente os bascos possuem certa autonomia política em seu
território, do lado espanhol. Já no lado francês, autonomia alguma. São 4
províncias na Espanha, muito desenvolvidas em vários setores da
economia e artes, como na indústria, agricultura, pecuária. Um solo
fértil e rico. A muralha dos Pireneus divide a Espanha da França e no
lado francês existem 3 pequenas províncias que não são desenvolvidas
como no lado espanhol. Mas um povo unido em alma e coração,
ultrapassando as barreiras físicas.
O livro é simples e leve, e a autora na verdade é uma advogada. Ela
sentiu uma grande necessidade em escrever este livro, já que quase não
temos livros sobre os bascos no Brasil. E também uma necessidade
pessoal, me contar sua experiência em visitar sua terra.
Eu me emocionei com este livro, aonde a autora primeiramente faz todo um
resumo sobre a História Geografia e cultura basca. De forma como o
leitor não encontrará jamais em outro livro brasileiro. Ela é de Porto
Alegre e neta de bascos.
Apesar de ser um início muito didático, é interessante e um raro material.
Depois ela nos conta a história de sua família e sua viagem até o País
Basco para encontrar parentes e visitar terras e conhecer sua origem e
os detalhes do povo basco. Coisa que está em minhas prioridades nessa
vida!
Ela explica o funcionamento das leis, foros, casas bascas. Direito no
geral, pois ela é advogada. Fala sobre a culinária, os esportes (claro, a
Pelota Basca) e religião. Como foi o último povo a se render ao
Cristianismo na Europa, tendo ainda vestígios pagãos na cultura, como as
lendas de bruxas e Mari.
Ela descobre o verdadeiro motivo do bombardeiro de Guernica e conta a
história do Carvalho de Guernica e os foros. Achei estranho ela não
saber, sendo descendente de bascos. Maravilhosa história que quase
nenhum professor de História sabe contar. Eles costumam falar apenas
sobre a chance das Forças alemães testarem seu armamento, mas a verdade
foi muito mais complexa.
Livro perfeito para as pessoas conhecerem os bascos e suas curiosidades e
cultura. Um livro maravilhoso para quem quando pensa em bascos imagina
apenas ETA, terroristas, separatistas loucos... Os bascos são muito,
muito diferentes disso. Um povo que merece muito respeito e admiração.
Um povo muito mais antigo que os ibéricos ou gauleses, que resiste ao
tempo, que mantém sua história sem ter se deixado afetar pelos povos que
os tentaram dominar. Um povo rico culturalmente, alegre e esperançoso.
Um povo que quer apenas voltar a ser livre. Enquanto existir um basco ou
descendente próximo que seja basco em alma, o sonho pela liberdade
basca jamais morrerá!
Esta pode se ruma de minhas mais simples resenhas, mas a que mais me emocionou.
www.leitoraviciada.com